"Poesia é a mais alta criação humana. Só tem equivalente na música..."
Eduardo Lourenço



sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Fugimos dali...

Convidei o tempo para se sentar ali
E o tempo não fugiu, disse que sim
Foi quando os teus olhos me convidaram a mim
A fugirmos, sem tempo, dali
E depressa fugimos
Porque é assim...
Urgente, o meu amor por ti

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Desassossego

Sabe a sempre o teu beijo
A mar as tuas palavras
Nas ondas da maré alta me deixo
Guiar pelo desejo
De as ouvir segredadas

Sabe a sempre o desejo
E claramente eu vejo

O desassossego em mim
À falta de um beijo assim


sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Sabes quando te vi?

Senti-te sem saber porquê
Vi-te quando ainda não te tinha visto
Nas tuas palavras voltei a sentir-te
E no bater do coração contigo existo


quinta-feira, 29 de julho de 2010

Sem certeza...

Destapei-te a certeza
Com certeza que sentiste
Peguei-te na mão levemente
Sem saberes porquê me seguiste

Sussurrei-te...

Sussurrei-te devagar ao ouvido
E com o vento da noite cantei-te
Deixaste-me sussurrar, sem sentido
E sem sentido amei-te


segunda-feira, 26 de julho de 2010

Foi ontem que vos falei...

Junto neste muro as palavras
Todas as palavras que sei
Com esperança que por aqui passe
De quem eu hoje me lembrei

Junto neste muro a saudade
Toda a saudade que encontrei
Com esperança de que a saudade, bem alto, vos chame
E alto grite o coração também

Mas por aqui não passam, eu sei
Porque ainda ontem vos falei
Estavam escondidos na saudade
E foi com o coração que vos achei

Porque hoje é Dia Mundial dos Avós e eu sinto saudades dos meus...


terça-feira, 13 de julho de 2010

Prefiro viver...

Decidir, optar, escolher?
Prefiro viver
Pensar, analisar, ponderar?
Prefiro arriscar

Porque já pensaste?

Se ao tempo que perdeste a pensar
Somares o que te fez recuar
Perdes não só o que te faz viver
Como vida para recordar


terça-feira, 6 de julho de 2010

Sem querer...

Ontem procurei o que tinhas deixado...
Procurei... E não encontrei
Mas, sem querer, sem procurar, lembrei-me
Estava onde, sem querer, deixei
Porque o que era teu, sem saber, guardei...

terça-feira, 15 de junho de 2010

Chiu...

Chiu...
Deixa...
Não fujas do medo, porque o medo tem medo de ti
Chiu...
Espera...
Que o vento te varra as lágrimas
Que o sol te aqueça o rosto
E que a chuva que cai
Te abrace... Num abraço sem querer
Mas se fugires...
Não penses, vai...
Mas vai para onde te leva a coragem


domingo, 23 de maio de 2010

Fado teu...

Embala nessa cantiga
A rima maior desse teu fado
Pois esse teu fado, em mim
Chora hoje, assim,
Lágrimas de um passado



terça-feira, 18 de maio de 2010

Só assim...

Dispo-me de conceitos, de certezas, de verdades
E deixo-me ficar assim
Onde o som que acolhe as vontades
É o da música do teu sorriso
Das tuas palavras, que sem saber preciso
E do silêncio onde assim fico
Comigo em mim
Só assim


terça-feira, 11 de maio de 2010

Sou

Sou...

O sol que me aquece
A chuva que me molha
O vento que me leva o medo

Sou...

Os versos que não rimo
As imperfeições do que vivo
Os desabafos do meu segredo

Sou...

O que fui, onde estive e para onde vou
O que senti, o que vivi
E para onde o meu segredo me levou...


sexta-feira, 7 de maio de 2010

A vida aconteceu, um dia...

Houve um dia em que a vida aconteceu...

Era um dia igual aos outros
Daqueles em que da noite se faz dia
E a noite, de tão fria,
Pega, pela manhã, o sol e por ele se guia

Mas era diferente este dia...

Porque a noite, de tão escura
Abraçava o sol da melhor forma que podia
E o sol, de tão quente
Roubava da noite a fantasia

E foi nesse dia...

Que a vida tomou gosto na fantasia
Que o sonho se prolongou para o dia
E que o dia, de tão fresco que estava o sonho
Viveu, sem temer a noite, a manhã, ou o outro dia...


quarta-feira, 21 de abril de 2010

Naquele dia...

Em que o desejo te lavou os lábios
E, sem perceberes, te levou a verdade
Sobrou-te a vontade

Naquela hora...
Em que o sabor da vontade
A pouco te soube...

Trouxe-te, o desejo, a verdade de volta
E com ele mataste a saudade
E os teus lábios... De tão grande a vontade
Provaram o sabor da eternidade


sexta-feira, 16 de abril de 2010

Sabes..?

Quando a vida congela?
O tempo passa
Mas não te lembras dela?

Quando o coração aperta
O tempo passa
E o que sentes derperta?

E do tempo que passa
Do coração que aperta
E da vida que não desperta

Tiras sabor do que sentes
Amas o que não mentes
E ao coração respondes, com essa dúvida certa

quinta-feira, 25 de março de 2010

Sem pensar...

Doem-me as palavras, se não as sinto
O coração, se não encontro as palavras certas.
Mas ao coração não minto
Quando as palavras grito
Os sentimentos não explico
E sem pensar me deito... Sobre certezas desertas


segunda-feira, 22 de março de 2010

'Mãe, o que é Amor?'

De longe, veio um menino e sentou-se
Ao seu lado, a sua mãe bordava
O menino no seu colo aconchegou-se
E os olhos da sua mãe procurava

'Mãe, o que é o Amor'?
Perguntava
Ao seu lado, a sua mãe bordava
E o menino, com teimosia, insistia
'Onde está, como se cria'?
E ao seu lado, a sua mãe bordava

E o menino, pequenino, dizia:
'É quando guardo o teu sorriso junto do meu?'
'Ou quando no teu colo adormeço?'
'Não sei o que é, mãe...
Nem sei se o mereço...'
E a sua mãe... Sorria

Porque o menino ao seu lado insistia
E a esse menino, pequenino, respondia:
'É quando no meu colo adormeces...
Com o coração aconchegado
Se mereces, meu filho? Mereces...
Porque no teu coração, pequenino, me resguardo...'

terça-feira, 16 de março de 2010

Hoje...

Hoje sou como estou, aqui
Hoje me descubro, a mim
Porque assim quero, hoje
A cru, só assim

Do meu tempo faço o que sou
E assim tempo ao meu tempo dou
Para que de instantes se faça o meu tempo
Esse que em mim se soltou

Mas esse tempo deixo que fuja
E o tempo assim se calou
E nele a vontade, sem pressa
Instantaneamente o meu tempo abraçou


segunda-feira, 8 de março de 2010

Guardo-me aí...

Guardo desse momento a recordação, do que nesse momento vivi.
Simples era o que vivia, era simples o que sentia.
E de palavras doces tiro o sabor, do que um dia trouxe essa lembrança.
Simples era o que ouvia, era simples o que sentia.
E com o sorriso dos teus olhos, a pontuo. Nessa lembrança me guardo eu.
O teu rosto, num gesto simples, acolho. E de grandeza se faz o que aconteceu.



quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Se um dia...

Se te desse um dia o meu sorriso... Levavas contigo e escondias num sonho teu? Leva, guarda-o. Abraça-o quando for preciso. Se te desse um dia um sonho meu... Levavas contigo e escondias no teu sorriso? Leva, guarda-o. Esconde-o onde mais ninguém chega. Leva, guarda-o. Esconde-o num lugar teu.



quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Do outro lado...

Vi, ao fundo, a desilusão e escondi-me. Tropecei na vontade de chorar e atirei-a para o lado. Vi, do outro lado do espelho, o coração a apertar, mas virei costas e fui embora... No outro dia, quando acordei, a desilusão continuava lá, no mesmo canto, junto da agonia e da mágoa. A vontade de chorar já sabia onde morava e agora visitava-me com mais força. E o coração esse, de tão apertado que estava, decidiu dar à desilusão fio condutor e à vontade de chorar porto de abrigo. Mas se um dia me desiludi e chorei com força, hoje sei onde mora a vontade de sorrir. Esconde-se do lado de lá da mágoa, nesse lugar onde chegam os que não têm medo...




segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Não estava ninguém, ali...

Não estava ninguém, ali. O mar e o vento evidenciavam-se, para quem os quisesse ouvir... Mas, olhei à volta... E não, não estava ninguém, ali. E o mar e o vento continuavam... Dançavam, despreocupadamente. Mas ninguém via... Abraçavam-se, num abraço forte... Mas ninguém sentia... Corriam, saltavam, fugiam... Mas ninguém os seguia... E o mar e o vento continuavam... Caminhavam... Prosseguiam... Mas talvez um para o outro, não para quem os ouvia... Talvez os dois, nessa soma, não para quem os queria...




sábado, 6 de fevereiro de 2010

Branco...

Há um momento decisivo no branco de uma página... Há um compasso de espera, que espera pelo compasso da escrita e do pensamento. Há um momento decisivo que não se decide. Porque é a criatividade que dita as regras, a vontade que as escolhe e o pensamento que as conduz. Há um momento decisivo no branco de uma página... Mas a liberdade do branco é essa. Um vazio que ganha no compasso da escrita, a vontade de crescer ao sabor de um pensamento que vive livre. Um vazio que ganha corpo de uma espera que já não espera mais...



terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Não te vi...

Não te vi quando estavas do meu lado enquanto chorava por alguém. Não te vi quando me dizias que tudo iria ficar bem. Não te vi quando me amparavas uma queda. Não te vi quando me lisonjeavas. Não te vi quando me abraçavas. Não te vi quando me dizias serenamente que o caminho não era aquele, pegavas na minha mão e me conduzias pelo caminho certo. Não te vi quando sorrias e me dizias porquê. Nem sequer te vi quando sorria para ti. Vejo-te agora, porque te sinto. Sinto-te agora, porque não te vejo...




domingo, 31 de janeiro de 2010

Tenho saudades vossas...

Lembro-me dos meus avós... Da forma como orgulhosamente sorriam, das histórias que destemidamente contavam e dessa forma orgulhosa e destemida com que olhavam para trás. Vivi-os, totalmente, na altura, e vivo-os hoje na totalidade dessas minhas lembranças. Porque não vejo o brilho daquele olhar quando o busco... Não toco o carinho daquelas mãos enrugadas, quando sinto que vou cair... E não oiço as histórias que ouvia, quando em frente deles me sentava... Mas sinto o coração aconchegado quando ele aperta. Tenho saudades vossas, mas o que sinto ultrapassa as lembranças. O que sinto é do mundo das coisas que a vida não leva.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Deixa-me rir...

O diálogo tem um 'quê' de orgânico: nasce, desenvolve-se e leva-nos por caminhos inesperados. Apetecíveis, umas vezes... Outras menos apetecíveis, mas, de certa forma, incontornáveis. Porque, na realidade, o diálogo parece ter vontade própria. E hoje foi assim: apetecível e incontornável. Depois de um dia de trabalho, em que apetecia tudo menos rir - porque os dias de trabalho também parecem ter esse efeito incontornável - foi a rir que acabou aquela conversa. E de repente o diálogo transportava aquelas duas pessoas para outro lugar, outro tempo e espaço. Talvez porque o diálogo se apodera da palavra e a palavra tem esse efeito... Mas foi a rir que acabou o dia... E soube tão bem!




domingo, 24 de janeiro de 2010

O tempo passou por mim...

Corri para apanhar o tempo, mas não percebi que foi o tempo que passou por mim... Sem pressa... Passou, porque o tempo é mesmo assim... Vai, sem aviso, mas nunca vem. Corri para apanhar o tempo, mas não percebi que enquanto corria, ele fugia... Fugia, porque o tempo é mesmo assim... Foge, sem aviso, mas não se esconde... O tempo está mesmo ali, no tempo certo. Mas não se quer colhido, quer-se vivido.