"Poesia é a mais alta criação humana. Só tem equivalente na música..."
Eduardo Lourenço



terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Por um instante...

Morei na infância durante aquele tempo. Não o tempo que a idade dita, mas o outro, aquele em que apetece ser criança. Decidi deixar as responsabilidades na mala do carro... Lugar onde, aliás, deixei também esses objectos tão ‘indispensáveis’, como o relógio, o telemóvel, o Blackberry e o PDA. Substituí o GPS pelo sentido de orientação que usávamos nos campos de férias, aquele que se ganha quando as botas ficam cheias de lama e as camisolas sujas, de tanto andar na terra… E fui! Corri, saltei, dancei… Saboreei a infância dessa perspectiva tão injusta que não nos deixa ser criança, só porque sim… A verdade? Nunca me senti tão bem…
Quando voltei, pensei: ‘Porque é que não pode ser sempre assim? Ah pois é… É o tempo da idade… Passa sem permissão, torna-nos mais adultos e menos crianças!’




domingo, 23 de novembro de 2008

Porque sim...

Sentei-me num desses cafés que não é 'da moda', mas onde servem chocolate quente, as cadeiras são de palha e as pessoas sorriem despretensiosamente. Tentei lembrar-me porque me tinha vindo embora. Mas a realidade é que para trás deixei também essa recordação. Não sei ao que vim, mas sei que parti.
Quis ficar assim, sem lembranças. Seria possível uma pessoa viver sem o seu passado? Do futuro poucas certezas tinha, sabia apenas que o sentimento de vazio era agora substituído por uma vontade súbita de me conhecer a mim melhor, primeiro. Os meus limites, as minhas capacidades. Depois, de voltar finalmente a este lugar... Onde o cheiro da terra molhada é diferente do das outras terras, onde os sorrisos se pontuam de uma genuidade que nos é familiar e onde o sabor do tal chocolate quente é diferente das outras bebidas de chocolate, que fervem em chávenas que não conhecemos... Não, este lugar é diferente! Porque ao que é típico se junta o sabor da saudade. Esse, nenhum outro lugar tem.
Nas consequências deste meu acto pouco pensei. O que queria era apenas viver aquilo a que tinha direito e ambicionar (pelo menos) o tal futuro risonho de que todos falam... Não será simplesmente assim...? Podermos ser aquilo que ambicionamos? É certo que o importante é reconhecer o que dessa ambição faz parte. Mas agora sabia o que queria… E não era o lugar de onde tinha partido.